A casa dos meus avós fica em um terreno estreito e profundo:
um espinho no quarteirão.
A única janela voltada para rua
é mantida fechada para esconderem-se do mundo.
(Como se o muro alto já não bastasse!)
A falta de aberturas mantém os ânimos na escuridão.
Na casa dos meus avós, os doces têm gosto de diabetes.
O ar, pesado, cheira a urina, mofo e suor.
As paredes transpiram tanto quanto seus moradores
e a tristeza penetra nos poros de quem entra lá.
A casa não tem mais meus avós.
Escrevo no presente porque carrego o fardo da herança.
Tudo que é passado foi passado por meu pai para mim.
Medos acumulados nos armários.
Medos que dissolvo na voz que tenho, enfim.