sexta-feira, outubro 16, 2020

Aquela que

É marcada por uma época,
Não acompanha as mudanças do mundo.

Vive de lembranças do passado,
Sofre de nostalgia.

Antigamente que era bom,
No meu tempo era melhor.


Morta em vida, 
datada.

terça-feira, agosto 18, 2020

Herança

A casa dos meus avós fica em um terreno estreito e profundo:
um espinho no quarteirão.
A única janela voltada para rua 
é mantida fechada para esconderem-se do mundo.
(Como se o muro alto já não bastasse!)
A falta de aberturas mantém os ânimos na escuridão.

Na casa dos meus avós, os doces têm gosto de diabetes. 
O ar, pesado, cheira a urina, mofo e suor. 
As paredes transpiram tanto quanto seus moradores
e a tristeza penetra nos poros de quem entra lá.  
 
A casa não tem mais meus avós.
Escrevo no presente porque carrego o fardo da herança.
Tudo que é passado foi passado por meu pai para mim.
Medos acumulados nos armários. 
Medos que dissolvo na voz que tenho, enfim.

terça-feira, junho 16, 2020

Bom dia, abraço, boa noite.
Segue à disposição o boa tarde solicitado.
Qualquer dúvida, estou no anexo.
Muito bem?
Tudo obrigada.

quarta-feira, junho 10, 2020

Tristeza Milenar

Por que se tornou tão difícil para mim fazer, escrever, falar?
Por que me enfiei de novo na minha concha?
Só quero comer, dormir, sonhar...
Do que eu fujo?
De quem me escondo?
Por que, todos os dias, entrego meus dias à preguiça?
Por que é tão difícil acordar?
Por que, mesmo com dor de cabeça de tanto dormir, tenho tanta vontade de voltar pra cama?
Por que a única coisa que me motiva a sair de casa é ir ao supermercado comprar chocolate ou comer sorvete?
Por que não consigo fazer meus trabalhos da faculdade?
Por que vou deixando tudo para depois e, quando chega a última hora, acho que não vai mais dar tempo e desisto?
Por que sento na frente do computador para projetar e não consigo?
Por que fico na internet mesmo quando não tenho mais ninguém com quem conversar ou nada para pesquisar?
O que eu faço de bom?
O que eu faço merecer tudo que tenho?
O que eu tenho?
Por que algumas pessoas gostam de mim?
Por que eu sonho com quem me ignora?
Por que eu penso tanto se não faço ou falo um milésimo disso?
Por que eu escolhi a Arquitetura?
Eu escolhi certo?
Por que me sinto tão inferior, tão menos capaz que meus colegas?
Por que meus olhos estão se enchendo de lágrimas?
Por que, apesar de saber que estou fazendo tudo errado, continuo com vontade de comer chocolate e me deitar?
Por que, eu que sempre fui tão organizada, to vivendo no meio do pó e da bagunça?
Por que não coloco as coisas nos lugares?
Por que espremo minhas espinhas?
Por que tenho espinhas?
Por que fico horas na frente do computador jogando joguinhos idiotas?
Por que mesmo sabendo de tudo isso, eu continuo fazendo tudo igual?
Me sinto tão mal com tudo isso... Me sinto mal... E não tenho vontade de falar pra ninguém. Não falo pros meus pais pra não preocupá-los. E porque isso só aumenta minha culpa. Culpa... Me desculpem... Me desculpem por eu me sentir triste, mesmo tendo tudo que preciso, mesmo sabendo do amor que têm por mim... Me desculpem por não conseguir aproveitar tudo de bom que vocês me oferecem... E por ter que mentir que estou bem... Desculpem por eu sofrer e fazer vocês sofrerem também... Por isso prefiro sofrer sozinha...
Por que estou chorando compulsivamente???
Por que isso só aumenta mais minha vontade de não fazer nada e de comer?
Sou tão ridícula!!!!!!!!!!! Tão idiota!
E qual seria a solução se contar o que sinto para alguém faria eu me sentir pior e mais ridícula?
Qual é a solução para perda de vontade?
Não confio em ninguém aqui em Porto Alegre para me abrir...
Cada um tão preocupado consigo mesmo e não sinto interesse de ninguém tão grande por mim a ponto de querer ouvir o que estou sentindo.
Eu sou ouvido de penico.
E quem é o meu?
Por que não demonstro que estou mal?
Quem sabe assim veria que tem gente disposta a me ajudar?
Meu pais, não. Não merecem ficar mal por mim...
Por que continuo sonhando que alguém vai me ligar e fazer tudo isso que estou sentindo ir embora?
Por que ainda?
Por que não paro de escrever na esperança que alguém apareça?
E por que estou fantasiando alguém me salvando?
Por que eu crio histórias impossíveis na minha cabeça?
Por que só essas histórias me dão alegria?
Me lembro de ter sido feliz...
Me lembro de ser triste...
Me lembro de chorar a noite sozinha no meu travesseiro.
Chorar por meus irmãos... Por querer ser amiga da minha irmã, por ver meu irmão e minha mãe brigando...
Chorar por ser gorda e feia e tantas vezes desprezada...
Chorar por meus colegas “populares” terem rasgado o convite para meu aniversário de 9 anos...
Chorar tantas vezes pelo ******... Tantas brigas, tantos insultos...
E mesmo assim, tantas vezes é nele que penso quando me sinto mais sozinha.
Me faz tão bem saber que ele me ama. Mesmo tendo ficado tanto tempo comigo, conhecido tanto de mim... Ele me ama.
Queria ver também o que ele vê em mim.
Às vezes acho que não vimos nada um no outro. Simplesmente, nos vimos. Nos agarramos um ao outro. Ao mesmo tempo nos amamos e, assim, nos apaixonamos pelo amor. Nos viciamos em ser amados.
Houve um tempo, uns dois anos, em que eu achava que isso era O AMOR. Já não sei mais. Voltei a sonhar...
E agora... Não estou mais chorando. Secaram minhas lágrimas.
Deve ser a satisfação de ter chegado a algumas conclusões ou, pelo menos, hipóteses. Consegui escrever algumas linhas!
Linhas que, provavelmente, ninguém além de mim lerá.
Melhor assim.
Me animei um pouco. Já sinto vontade de rimar...
Ar.
Fim,
Mim.

::: Texto escrito em outubro de 2006, aos 20 anos, no auge da minha depressão :::

Toda essa tristeza parece estar dentro de mim desde que nasci. Para lidar com ela, fiz terapia (acho que deveria estar fazendo ainda...), ocupo o corpo produzindo endorfina, e a mente apreciando arte. Cuido para não me perder e cair em fantasias. Às vezes tropeço, mas já sei o caminho de volta.

terça-feira, fevereiro 04, 2020

O processo inativo

Infinitas possibilidades e a angústia de dizer milhões de nãos em detrimento de um único caminho escolhido. O reconhecimento da ilusão da separatividade: a perfeição só pode estar no Todo, ou no nada. A dor de saber-se incapaz de materializar a beleza do Todo, e o dilacerante vazio de ter-se pouco mais que nada. A mente na velocidade da luz, sem conseguir enxergar qualquer lampejo, e o tempo passando, com dó de você. 

domingo, junho 30, 2019

Sou tu solto no espaço-tempo,
cega para a vulgaridade dos atos,
sem sentir a gravidade dos fatos.

domingo, março 10, 2019

Quanto mais, tanto menos

Quanto mais dentro de mim, mais parecia fora.
Tentava prender-nos pelo olhar, quando melhor seria se soltar.
Eu queria fechar os olhos e mergulhar em nós.
Mas só as histórias passadas a sós nos entrelaçavam.
Mesmo assim, eu estava apaixonada. (?)